AS TEORIAS CONTRATUALISTAS E O CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA
As
teorias contratualistas do Estado partem do pressuposto que há um
consenso hipotético sobre o qual repousa a legitimidade do Estado. A
legitimidade também estaria assentada na busca do bem comum pelo Estado.
À medida que houvesse um desvio dessa busca, caberia aos indivíduos o
direito de resistência.
O contrato desempenha ainda um papel
importante no pensamento político medieval, mas é na Modernidade que as
teorias do contrato social adquirem um lugar central na filosofia
política. O primeiro grande teórico do contrato social é Thomas Hobbes.
Locke e Rousseau partiram de premissas diferentes das de Hobbes na sua
argumentação contratualista, porém partilham alguns pressupostos e uma
estrutura argumentativa comum, que constitui o núcleo de todas as formas
de contratualismo. Muito criticado por Hume, Hegel e Marx, o
contratualismo foi renovado, na segunda metade do século XX, por John
Rawls. Entre as formas mais recentes de contratualismo moral encontramos
as de David Gauthier (de inspiração hobbesiana) e a de T. M. Scanlon
(de inspiração kantiana).
A idéia básica do contratualismo é
simples. A organização social e as vidas dos membros da sociedade
dependeriam, em termos de justificação, de um acordo, passível de ser
definido de muitas maneiras, permitindo estabelecer os princípios
básicos dessa mesma sociedade.
O estudo do contratualismo moderno
ensina-nos a ver melhor que nenhuma das configurações do argumento
contratualista permite resolver todas as questões complexas das
comunidades humanas.
É também esse o momento da contraposição ao
Absolutismo Monárquico, onde o poder do Rei, monarca absoluto, era
tornado legítimo e justificado por vontade de Deus; o exercício do poder
pelo monarca era, assim, por direito divino. O contratualismo marca o
momento histórico em que a burguesia resolve tomar para si o Poder,
colocando fim ao Antigo Regime, inaugurando o Estado Moderno, que será
implantado na prática a partir da Revolução Francesa, quando a burguesia
toma o poder. O modelo teórico de Estado do contratualismo, o Estado
Moderno, constitui, portanto, à aspiração da burguesia enquanto classe
social que luta contra a Monarquia e a velha nobreza.
Para os
contratualistas, o Estado surge fruto da ação voluntária e racional dos
homens em acordo, ou seja, o Estado surge naturalmente a partir de um
contrato ou pacto social. Caso o Estado não cumprisse com os deveres
para os quais foi criado ele poderia ser modificado, transformado, a fim
de atender ao que os contratualistas chamaram de Bem Comum.
Justificavam-se, assim, a Revolução Francesa, a Revolução Industrial na
Inglaterra, os movimentos de Independência das Colônias (a começar pelas
colônias inglesas na América), os movimentos Republicanos e
Abolicionistas. Nesse novo laico de Estado, a Igreja não mais exerce o
poder temporal, continua tendo um peso ideológico, mas sua ação se
limita, porque não é pelo reconhecimento do Papa e de acordos de
Vaticano que se reconhecem os recém-nascidos Estados Modernos, mas por
acordos da política internacional.
Os contratualistas deram,
assim, o suporte teórico à implantação do Estado Moderno pela Burguesia,
e, apesar de não haver ainda igualdade econômica, possibilitaram
conquistas como os direitos naturais do homem e a igualdade de direitos,
resumidos no lema da Revolução Francesa: Liberdade, Igualdade e
Fraternidade.
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