sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Thomas Hobbes, para o 2º ano

O Estado é uma necessidade, um impositivo para os homens que anteriormente viviam em estado de natureza. O Estado, e somente ele, é capaz de impor a ordem, por instaurar um governo em comum, regras comuns e exercer soberanamente a justiça da sociedade. Nesse sentido, a idéia da guerra como algo abominável, de que tem de fugir, sob pena do extermínio completo de todos por todos, ressalte-se, é o que promove a propulsão acelerada do homem para a sociedade civil.




O Estado




O leviatã é o monstro legendário mencionado por Hobbes para ilustrar a figura artificial do Estado. O contrato é fundado, é iniciado artificialmente pelos homens, mas com consenso de vontades, e é firmado de forma irreversível entre as pessoas e o soberano. E isso é feito por força da lei natural que manda a busca pela paz.



O poder é definido como o conjunto dos meios empregados para obter uma vantagem futura. Distinguem-se duas espécies de poder: o poder natural, que depende de faculdades inerentes ao corpo ou do espírito, e o poder instrumental, que consiste em meios (como riqueza, reputação, amizades) capazes de acrescer o poder natural. O maior dos poderes humanos é aquele que é composto de vários homens, unidos por consentimento num só pessoa, natural ou civil, é o caso do ESTADO. O Estado representa a forma pela qual se pode garantir pacificamente o convívio humano, ante a ameaça de dissolução, de anarquia, de destruição e retorno ao estado de natureza belicoso.



É o medo de desagregação, da corrupção completa do Estado, do enfraquecimento, que Hobbes prefere a monarquia. Segundo ele as monarquias estão menos sujeitas a isso que todos os outros governos.



No Estado natural o homem estaria em constante estado de guerra, de todos contra todos e para Hobbes, a própria lei da natureza impõe ao homem a procura da paz, estabelecendo a regra que os homens devem procurar o modo de vida civil. Assim, o Estado civil de acordo com Hobbes seria a garantia dos direitos naturais do homem, sendo um ente que faculta o cumprimento da lei natural que manda os homens resolverem suas pendências por um terceiro eleito árbitro, de modo pacífico e, portanto, colocando-se as partes com diferenças diante de um poder único. O Estado civil seria exatamente para evitar o Estado de guerra através de um poder comum, imposição da ordem e exercício soberano da justiça à sociedade.



O pacto de união que funda a sociedade civil tem algumas características: IRREVOGÁVEL, ABSOLUTO E INDIVISÍVEL. A sujeição ao soberano é irrestrita. Esse dever de obediência deve ser cumprido, salvo se o soberano não estiver oferecendo à sociedade paz e segurança. Há, na verdade, uma conhecida exceção: o dever de obediência cessa no momento em que a ordem do soberano põe em perigo a vida do súdito. Isto significa que o súdito deve obedecer a qualquer comando, salvo quando se trata de sua própria vida.



Os súditos devem honrar o compromisso de manterem-se fiéis ao pacto. Para Hobbes isso é justiça. Pois antes do pacto não existia lei, ou seja, tudo era permitido, não existindo injustiça. A definição de injustiça é não se não outra do que o não cumprimento de um pacto. E tudo o que não é injusto é justo.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Empirismo (1º ano)

Nome genérico das doutrinas filosóficas em que o conhecimento é visto como resultado da experiência sensível. Limita o conhecimento à vivência, só aceitando verdades que possam ser comprovadas pelos sentidos. Rejeita os enunciados metafísicos, baseados em conceitos que extrapolam o mundo físico, devido à impossibilidade de teste ou controle. A noção de gravidade, por exemplo, faz parte do mundo sensível; já o conceito de bem é do mundo metafísico.

O empirismo provoca revolução na ciência. A partir da valorização da experiência, o conhecimento científico, que antes se contentava em contemplar a natureza, passa a querer dominá-la, buscando resultados práticos. O inglês John Locke (1632-1704) funda a escola empirista, uma das mais importantes da filosofia moderna. Apesar de partir do cartesianismo, Locke discorda de Descartes sobre a existência de idéias inatas produzidas pela capacidade de pensar da razão.

Para Locke, as idéias vêm da experiência externa, pela sensação, ou da interna, via reflexão. São também simples ou compostas. A idéia de comprimento, por exemplo, é simples: vem da visão. A de doença, fruto da associação de idéias, é composta. No século XVIII, o escocês David Hume (1711-1776) leva mais longe o empirismo ao negar a validade universal do princípio de causalidade, uma vez que não pode ser observado.

O que se observa é a seqüência temporal de eventos, e não sua conexão causal. Só por uma questão de hábito pensamos que o fato atual se comportará como outros que já observamos no passado. Para o empirismo contemporâneo, também chamado de positivismo lógico, representado pelo austríaco Ludwig Wittgenstein (1889-1951), a filosofia deve limitar-se à análise da linguagem científica, expressão do conhecimento baseado na experiência.






terça-feira, 16 de agosto de 2011

Hiroshima - História



Hiroshima - O abominável mundo novo
Seis de agosto de 1945. Uma superbomba explode sobre o Japão, matando cerca de 100 mil pessoas. As repercussões daquela manhã de sol mudariam as regras do jogo. A eliminação da raça humana era uma possibilidade real

Leandro Narloch | 01/08/2005 00h00

Sol, calor, nada para fazer: um baita domingo de verão na base aérea de Tinian, uma das ilhas Marianas, no Pacífico. De folga, os soldados americanos do 509º Grupo Misto aproveitaram para tirar um cochilo, bater papo, se divertir. O major Tom Ferebee, de 26 anos, passou o dia com a luva e a bola de beisebol – ex-jogador do Boston Red Sox, uma espécie de Flamengo do tradicional esporte americano – e não via a hora de voltar para casa. O sargento Bob Caron, de 21 anos, limpou sua máquina fotográfica. Muitos jogaram pôquer. No fim da tarde, a moleza foi interrompida com a convocação para uma reunião. O capitão da Marinha William Parsons queria dar uma notícia: no dia seguinte, 6 de agosto de 1945, aquele grupo de jovens lançaria sobre Hiroshima, no Japão, a arma mais terrível da história. “A bomba que vocês vão jogar é uma coisa nova nas guerras. É a mais poderosa arma já produzida. Vai destruir uma área de cinco quilômetros quadrados.”

Até aí, a missão para a qual os soldados do 509º estavam se preparando havia um ano era desconhecida mesmo para eles. Envolvera milhares de pessoas, entre cientistas e militares, três anos de trabalho e dois bilhões de dólares. Tudo para construir uma bomba inédita, tecnologicamente revolucionária e com o poder de 12 mil toneladas de dinamite. Mas por que os americanos precisavam de uma arma tão poderosa? Em maio de 1945 a guerra na Europa havia terminado. Hitler estava morto, e Berlim, em ruínas, ocupada pelo Exército Vermelho. Os aliados já discutiam o mundo pós-guerra e dividiam os territórios libertados pelos nazistas. Só que, enquanto a Europa era fatiada, o Japão resistia.

No dia 25 de julho, em seu gabinete improvisado no cruzador USS Augusta, no meio do Atlântico, o presidente dos Estados Unidos, Harry Truman, tomou sua decisão e ordenou o ataque nuclear ao Japão. Tinha na mão uma lista de cidades-alvo, feita pelo secretário de Guerra, Henry Stimson: Hiroshima, Kyoto, Kokura, Niigata e Nagasaki. Segundo a biografia oficial de Truman, da jornalista Nancy Lewis, o presidente excluiu uma, Kyoto, que fora capital imperial do Japão, e insistiu na escolha de um alvo militar. Hiroshima, com 40 mil soldados e 220 civis, tornou-se, assim, o alvo prioritário. No navio, o presidente escreveu em seu diário: “A arma finalmente será usada contra o Japão. Parece a coisa mais terrível já descoberta”.

Restava escolher o homem certo para a missão. O piloto da marinha Paul Tibbets, um comandante nascido em Quincy, era o favorito. Apesar de seus 30 anos de idade, já acumulava grande experiência em combate. Sua ficha, no entanto, ficou três meses nas mãos do FBI. Sua vida familiar, seus parentes e amigos da faculdade, suas preferências partidárias, tudo foi vasculhado. Afinal, Tibbets teria sob seu comando a mais mortal arma de guerra jamais construída. Nada poderia dar errado. E se desse, o comandante da missão deveria estar preparado. Tibbets receberia cápsulas de cianureto para toda a equipe. Se alguém se negasse a tomá-las, ele deveria executar o colega. Isso, porém, ainda era segredo naquele domingo de sol.

O tempo também estava claro e calorento a 2700 quilômetros dali, em Hiroshima. Mesmo sendo domingo, o trabalho não parava: a cidade era um dos poucos centros industriais do Japão que não tinham sido atacados pelos bombardeios dos B-29, que incendiavam quarteirões inteiros. “Todos sabiam que seríamos os próximos”, lembra Takashi Morita, policial militar japonês que sobreviveu ao ataque e que, hoje, aos 82 anos, é comerciante e mora no bairro Jabaquara, em São Paulo. Ao som dos rotineiros alarmes antiaéreos das últimas semanas, os moradores gastaram o dia levando móveis para casas de parentes longe do centro ou improvisando abrigos. Grupos de meninas estudantes – os meninos com mais de 12 anos estavam no Exército – desmontavam as casas de madeira para minimizar os incêndios quando a cidade fosse bombardeada.

Em Tinian, onde o sol se punha magnífico nas águas azuis do Pacífico, os soldados inteiravam-se da missão. Partiriam em três aviões: o primeiro, apelidado de Straight Flush, examinaria o clima em Hiroshima e daria sinal verde para o ataque. O segundo lançaria a bomba e o terceiro avaliaria e registraria os resultados. O avião da bomba foi batizado pelo capitão Tibbets com o nome de sua mãe, Enola Gay, provocando a ira de Robert Lewis, que geralmente pilotava aquele B-29, mas que foi apenas co-piloto da missão. “Perguntei a ele que diabos estava fazendo. Era o meu avião e eu é que deveria escolher o nome”, diria Lewis ao historiador britânico Gordon Thomas, autor de Enola Gay: Mission to Hiroshima (Enola Gay: Missão Hiroshima, inédito em português).

Lewis e Tibbets não se falaram mais até a hora do vôo. Às duas da manhã, a bomba de cinco toneladas, apelidada de Little Boy (“garotinho”), foi colocada no avião. “Com quase sete mil galões de combustível, a bomba e 12 homens a bordo, o bombardeiro estava perigosamente pesado”, afirma o historiador americano Malcolm McConnell, autor de A Última Missão. Um acidente na decolagem, coisa comum, poderia fazê-la explodir ali na base. O jeito era levar a bomba desarmada e montar o dispositivo de disparo a bordo, trabalho que ficou a cargo do capitão Parsons. Às 2h45 do dia 6 de agosto, o Enola Gay decolou de Tinian rumo aos livros de história.

O avião levaria cinco horas e meia para chegar ao destino, mas durante toda a madrugada soaram alarmes antiaéreos em Hiroshima. O fotógrafo Yoshito Matsushige passou a noite revelando as fotos que tirara no dia anterior para o jornal local, o Chigoku Shimbun. De manhã, às 7h30, ele ouviu mais um alarme antiaéreo. “Pela janela, vi o avião americano. Ele me pareceu enorme”, diz Matsushige. Era o Straight Flush verificando o clima na cidade. Se houvesse nuvens e pouca visibilidade, o alvo mudaria para Kokura ou para Nagasaki. Mas a manhã era de sol. “As nuvens cobrem menos de 3/10 em todas as altitudes. Aviso: alvo primário”, foi a informação que chegou ao Enola Gay.

Se permitiu que os aviões americanos avistassem seu alvo, o céu claro sobre Hiroshima também possibilitou que seus habitantes percebessem a aproximação de seus algozes. Perto das oito horas, o médico Masakazu Fujii resolveu ler o jornal no terraço de seu consultório, de onde viu o grupo de meninas retornando ao trabalho do dia anterior. No avião, o major Thomas Ferebee ajustou os aparelhos e mirou para que a bomba atingisse uma ponte que cortava um dos sete rios da cidade. A jovem Ayako, de 20 anos, que depois se tornaria esposa do militar Takashi, olhava para o relógio do seu escritório: 8h15. Nesse momento a bomba foi lançada, livre do peso, o B-29 deu um salto para cima. O “garotinho” estava a caminho. Em segundos, um clarão silencioso foi visto na cidade. Do avião, o sargento Bob Caron fotografou o enorme cogumelo. Espantado com o impacto da explosão, o co-piloto Lewis escreveu em seu diário: “Meu Deus, o que fizemos?” Essa é a versão mais conhecida. Segundo o historiador Gordon Thomas, porém, essa frase veio depois que o coronel Tibbets pediu que ele reescrevesse algo mais educado. A frase verdadeira teria sido algo como “Caramba, que filha-da-puta!”



Por quê?

Sessenta anos depois que aquele flash gigantesco e silencioso disparou a 580 metros de altura, Hiroshima é hoje uma cidade moderna e tranqüila. Tem 2,8 milhões de habitantes, é conhecida por abrigar a fábrica de carros Mazda e um dos melhores e mais populares times de beisebol do país, o Hiroshima Carps. Tem estacionamentos verticais, canteiros de azaléias e placas Enjoy Coca-Cola pela rua. A maioria dos habitantes fala inglês e é comum as clínicas de cirurgia plástica oferecerem a chamada ocidentalização das pálpebras, intervenção que transforma olhos puxados em arredondados. Da destruição da cidade, restou uma ruína, o Domo de Hiroshima, antigo palácio de exposições. E uma pergunta: por que fazer um ataque nuclear ali?

Em agosto de 1945, a guerra contra o Japão estava quase vencida. Desde março, o país vinha cedendo o domínio de ilhas importantes no Pacífico sul, como Iwo Jima, diante do avanço dos americanos comandados pelo general Douglas MacArthur. Cidades importantes como Nagoya e Okinawa estavam arrasadas. A capital Tóquio havia sido destruída por um bombardeio de 334 aviões B-29. Oitenta mil habitantes foram mortos. “Em julho, a guerra no pacífico estava ganha”, afirma o professor Justin Libby, especialista em Relações Internacionais da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos. “A rendição, porém, era um tema polêmico tanto para japoneses, quanto para americanos. Mas, pelo menos quatro tentativas de rendição negociada foram feitas por japoneses antes de Hiroshima.”

Duas delas aconteceram por iniciativas de embaixadores japoneses na Europa impressionados com o caos na Alemanha. “Em maio de 1945, o representante japonês na Alemanha, Yoshiro Fujimura, trocou telegramas secretos com autoridades de Tóquio, apresentando as propostas de paz defendidas pelo diretor do Escritório de Serviços Estratégicos na Europa, Allen Dulles, e outros oficiais americanos na Suíça”, diz Libby. Como o cargo de Fujimura era pequeno demais para negociar o fim da guerra, ele foi ignorado por japoneses e americanos. O mesmo aconteceu com o adido militar japonês em Estocolmo, Makoto Ono. Ele entrou em contato com o rei Gustavo V, que mantinha boas relações com o imperador japonês. A idéia era chegar até o governo britânico e convencer Churchill a interceder pela paz. Ono não foi feliz. E acabou investigado por militares japoneses por querer a paz enquanto seu país queria a guerra.

A tentativa de paz mais consistente envolveu o primeiro-ministro japonês Suzuki Kantaro e foi feita via Moscou. A União Soviética e o Japão, mesmo em lados opostos, não estavam em guerra, e o japoneses acreditavam que poderiam usar a diplomacia e a força de Stálin para impor a paz negociada aos Estados Unidos. Mensagens dessas tentativas foram decodificadas pelos americanos, que as utilizaram para pressionar os soviéticos a declarar guerra aos japoneses. As mensagens mostram também que muito antes do ataque nuclear os americanos sabiam da possibilidade de rendição.

No Japão, todo mundo sabia que a guerra estava perdida. Com sua indústria de guerra paralisada, os aviões americanos B-29 passeavam pelo espaço aéreo do país quase sem resistência. Mas render-se era demais para os militares. Seria o fim do sonho expansionista que começara nos anos 30, com o Japão estendendo seus braços sobre Coréia e China. Significaria, ainda, a primeira derrota em séculos e poderia derrubar o imperador Hiroito, considerado o arahitogami, “sucessor direto dos tempos eternos”.

Por isso, os manda-chuvas do Conselho japonês, incluindo o primeiro-ministro, estavam divididos. Alguns aclamavam a população para lutar a ketsu-go, a “batalha decisiva pela pátria”. Entre eles estava o ministro da Guerra, Korechika Anami, um fanático pela tradição guerreira do país, que, como um antigo samurai, escrevia poesia clássica e dominava o kendo, luta em que um sujeito dá pauladas no outro com uma vara de bambu. Em Kyushu, no sul do país, Anami mantinha 570 mil homens à espera dos americanos. Ele também ordenara a convocação de 13 milhões de crianças e velhos que estavam sendo treinados às pressas para lutar.

O próprio imperador Hiroito assumira uma posição aparentemente contraditória: apoiava as iniciativas de paz dos embaixadores, mas também aplaudia os esforços militares de resistir à invasão, o que lhe daria melhores condições de negociar.

Mas militares e políticos americanos tinham seus próprios problemas em aceitar a paz. A opinião pública apoiava a guerra total contra o Japão e exigia a rendição absoluta. O ataque à base militar de Pearl Harbor, no Havaí, em dezembro de 1941, quando 2,4 mil americanos morreram, não fora esquecido. Uma pesquisa do Instituto Gallup de 29 de junho de 1945 revelou que 70% dos americanos queriam o Japão destruído e o imperador Hiroito retirado do cargo e julgado como criminoso de guerra. Mais: a maior parte, 33%, queria a cabeça do homem. Harry Truman, sucessor de Franklin Roosevelt, reconhecia a importância dos números. Entre os documentos liberados recentemente pelo governo americano, há um bilhete do ex-secretário de Estado Cordell Hull dirigido ao presidente e datado do dia da partida de Truman para a Europa: “Concessões aos japoneses poderão causar repercussões políticas terríveis em casa”. Hull era um dos signatários de um estudo que a guerra contra o Japão poderia durar até 1946, ano de eleições para o Congresso.

Só que Truman tinha ainda outros números com que se preocupar. Desde que assumira, a quantidade de soldados mortos era quase a metade do total dos três anos de guerra do Pacífico. Em junho, os militares apresentaram um plano de invasão ao Japão. Seriam duas operações: a Olympic e a Coronet. O presidente pediu um cálculo das baixas na empreitada. A projeção do Pentágono foi de 220 mil soldados mortos e 150 mil feridos. “Depois da guerra, essas estimativas foram ‘corrigidas’ por Washington, primeiro para 500 mil e depois para um milhão de mortos à medida que se tornou preciso justificar a bomba atômica”, diz o historiador Samuel Walker, da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos e autor de Prompt and Utter Destruction – Truman and the Use of Atomic Bombs Against Japan (Destruição total e imediata – Truman e a utilização das bombas atômicas contra o Japão, inédito no Brasil).

Para Walker, o maior empecilho para a paz com os japoneses estava longe do Japão. “Apesar da guerra continuar no oriente, em julho, duas semanas antes de Hiroshima, o foco de Truman era outro: ele estava em Potsdam, na Alemanha, onde se reuniria com os líderes da Grã-Bretanha e da União Soviética”, afirma. “Se ao sair dos Estados Unidos, Truman ainda tinha dúvidas, em Potsdam ele selou o destino de Hiroshima.” Na tarde do dia 16, Truman recebeu uma notícia que havia muito aguardava. Num ultra-secreto experimento no deserto do Novo México, militares e cientistas do projeto Manhattan realizaram com sucesso a primeira explosão nuclear. Truman não se conteve e durante o encontro com Churchill e Stálin, cochichou no ouvido do ditador soviético: “Temos um explosivo muito poderoso que iremos usar contra os japoneses e pôr fim à guerra”.

Segundo David S. Painter, professor de história da Universidade de Georgetown, em Washington, foi aí que nasceu a tese de que o ataque a Hiroshima foi um recado para Stálin. “Pôr a bomba em prática mostrou a Stálin que, apesar de ter vencido a guerra na Europa, levando sua influência a boa parte do continente, ele não ditaria as regras. E, do ponto de vista militar, a bomba atômica mostrou que havia algo mais poderoso que o Exército Vermelho”, diz Painter. “Não é à toa que muitos apontam a detonação da bomba – e não a construção do Muro de Berlim –, como o marco inicial da Guerra Fria.”

Não deixa de ser irônico: a Guerra Fria, o conflito velado entre americanos e soviéticos que marcou a segunda metade do século 20, começou com uma arma cujo núcleo chegou a 50 milhões de graus centígrados.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Racionalismo

Democracia, ainda

Para o 1º ano


O pensamento e as ideias de René Descartes

O filósofo nasceu de uma família nobre dedicada à medicina e ao comércio. Os Descartes se fixaram em La Haye, Tourenne. Seu pai se chamava Joaquim e era conselheiro do parlamento britânico. René tinha uma saúde frágil, e era cuidado por sua avó. Entrou no colégio jesuíta de Le Flèche, que havia sido fundado dois anos antes, mas já adquirira notoriedade. Nesse estabelecimento René teve formação filosófica e científica. Foi um bom aluno, mas não encontrou a verdade que procurava, como escreveu no Discurso do Método. Aprendeu a filosofia pelo método escolástico, e René, apesar de ser católico, percebeu a diferença existente entre aquele tipo de ensino antigo e o recente espírito renascentista, baseado nas últimas descobertas e inovações científicas e culturais. Agradava a Descartes a matemática, por dar respostas exatas. A educação em Le Flèche havia sido religiosa, e havia um clima de atraso e submissão às instituições políticas, acompanhados de estudos das infindáveis controvérsias teóricas da escolástica. Portanto Descartes saiu de lá um pouco confuso e decepcionado. Mas apesar disso recomendava o colégio para os filhos de amigos. Entrou para a Universidade de Poitiers, curso de direito, e se formou. Como não ficou satisfeito com os conhecimentos adquiridos, resolveu entrar para o exército. Se alistou nas tropas holandesas de Maurício de Nassau. Descartes tinha uma ligação com a Holanda, e foi combater os espanhóis.. Fez então uma forte amizade com um entusiasta da Física e da Matemática, Isaac Beckman, jovem médico holandês.

Descartes relata que viveu uma noite extraordinária no final de 1619. Ele ficava nessa época sozinho em um cômodo aquecido, onde podia se entregar à atividade intelectual. Uma visão extraordinária, um insigth. Numa noite iluminada, teve uma revelação dos fundamento de uma ciência admirável, de dimensão universal. Descartes resolvera viajar para procurar a verdade no Grande Livro do Mundo. em 1619 sai da Holanda e viaja pela Europa. Estava finalizando o seu Tratado sobre o Mundo e Sobre o Homem quando lhe veio a notícia da condenação de Galileu por suas teorias científicas. Além disso, a Inquisição estava correndo solta na Europa, Descartes sabia da morte na fogueira de Giordano Bruno e da prisão de Campanella. Como sua obra tinha um caráter inovador, que defendia a primazia da ciência, ela podia não ser bem aceita pela Igreja. E por isso Descartes resolveu não torná-la pública.

Descartes tinha um projeto filosófico. Cada vez mais ligado na matemática, queria associar as leis numéricas com as leis do mundo, resgatando a antiga doutrina pitagórica. Sua principal teoria afirmava-se na eficácia da razão. Queria refletir sobre a questão da autonomia da ciência e objetividade da razão frente ao Deus todo poderoso. As novas teorias científicas contrariavam as Sagradas Escrituras.

Em 1620, renuncia à carreira militar e parte para a Itália. Escreveu alguns trabalhos nesse período. Em 1637 publica o Discurso do Método- para bem conduzir a própria razão e procurar a verdade nas ciências. Teve uma filha com Heléne Jans, essa filha morreu com cinco anos e ele a amava. Seu nome era Francine e a dor da perda afetou Descartes. Ao contrário do Discurso do Método, que foi escrito em francês, Meditações foi escrito em latim. Seus pensamentos suscitavam muitas críticas, entre elas a de Hobbes. Consagrado, Descartes se relacionava com a princesa Isabel, e mantinha correspondência. Princípios da filosofia foi dedicado à princesa Elizabeth de Boêmia. Em 1649 aceita um convite da rainha Cristina da Suécia e vai para lá, entregar os originais de seu último trabalho.

A rainha Cristina costumava conversar de manhãzinha, quando fazia muito frio. Como Descartes não era muito parrudo, e sua saúde nunca foi das melhores, pegou uma pneumonia e morreu uma semana depois, ao deixar a corte, em 1650.

Descartes afirmou no Discurso do Método, que quanto mais estudava mais se apercebia de sua ignorância (parece um pouco com Sócrates, não é?). No livro Os princípios da filosofia afirma que a filosofia é como uma árvore, as raízes são a metafísica e a ciências como a medicina, a mecânica e a psicologia os ramos da árvore. A psicologia não era muito desenvolvida na época de Descartes. Descartes critica a lógica dialética, afirma que ela parte de verdades já conhecidas e é inútil para desvendar novas verdades. Também critica a matemática, pois, apesar de fornecer conclusões irrefutáveis, muitas vezes possui regras em demasia, sem nenhum fim prático, sendo muito abstrata. Descartes criou a geometria analítica, determinando um ponto do espaço no plano cartesiano. A geometria analítica estuda as curvas, superfícies e figuras geométricas, tendo relação com algumas equações. Essas equações podem ser aplicadas no plano formado pelas absissas e ordenadas. Assim a álgebra e a geometria foram unidas por Descartes que muito se orgulhava de sua descoberta. Ele também introduziu alguns discursos de óptica. Aplicou o raciocínio matemático nas regras de seu método. Pois era preciso usar a razão para se chegar à verdade universal. Descartes sempre buscou o avanço da ciência, e quando ela conhece a natureza se torna senhora dessa. Apesar de ter ainda alguns resquícios da escolástica, Descartes se esforçou para ir além e chegar no pragmatismo. Toda a escolástica e o edifício da ciência aristotélica faziam parte do passado. E com Descartes dá a entender era preciso ir para a frente. Por isso ele é considerado o fundador da filosofia moderna. No seu estilo claro mas pleno de construções, demonstrações e imagens ele nos dá as quatro regra do método:

a) jamais acolher algo como verdadeiro, a não ser que seja absolutamente evidente, e não acolher no juízo o que não seja claro e indubitável. É a regra da evidência.
b) a segunda regra, que tem um jeito matemático , diz para dividir as dificuldades em quantas partes fosse possível e necessário para resolvê-las.
c) a terceira regra é conduzir com ordem os pensamentos, começando com os mais simples e indo para os mais complicados, dos mais fáceis de conhecer para os compostos. Descartes também afirma, em outro trecho, que não se fia nos primeiros pensamentos. Na terceira regra é preciso fazer uma síntese da realidade complexa, que foi decomposta em partes menores.
d) a última consiste em fazer em toda a parte enumerações e revisões completas, para nada se omitir.

Leibniz zombou da aparente banalidade do método. Descartes aplicou-o e afirma que ele facilitou o desvelamento de certas questões, usando a razão como instrumento para tirar as dúvidas. Ele adverte que é um método que usou exclusivamente para si, como uma maneira de dirigir seu pensamento. Pois a razão, (bom senso) para Descartes, é o que há de mais bem distribuído no mundo, e o que diferencia a capacidade é o modo como cada um conduz seus pensamentos, chegando à resultados diferentes.

Como uma pessoa que está construindo uma casa, e necessita de um local para dormir enquanto a obra está sendo feita, Descartes fez uma moral provisória, para não permanecer irresoluto em suas ações. A primeira máxima é obedecer as leis e costumes de seu país. A segunda é ser firme e resoluto em suas ações e não ir adiante nas opiniões duvidosas ou falsas. Assim, com essa determinação podemos ser capazes de distinguir o que não é verdade. Derscates afirma que cada homem possui a noção inata do que é verdade. Deus dá essa noção, se, por intuição, temos muita certeza de uma coisa , ela é verdade. nesse ponto, Descartes valoriza a intuição, ao lado da razão. A menor distância entre dois pontos é uma reta, e não devemos ter remorsos de nossos atos. Descartes pretendia com isso se livrar de ter um espírito fraco e vacilante. A terceira máxima moral é primeiro vencer a si próprio, depois a fortuna, o destino. Primeiro modificar os desejos pessoais, e não a ordem do mundo. Tudo o que Descartes diz ter realmente em seu poder são os seus pensamentos. Assim nossa vaidade não toma conta e não remoemos nossos infortúnios nem lamentamos a falta de riqueza ou virtude.

Descartes prossegue dizendo que a melhor ocupação é cultivar a razão. É o que melhor podemos fazer, pois é impossível dominar o universo e o que não atingimos é inacessível. Descartes, ficou rolando nove anos pelo mundo, vivendo sem luxos desnecessários, e solitário. Realizando meditações metafísicas, chegou à dúvida metódica. Para se passar do pequeno Eu, (que é subjetivo e depende de muitos fatores para ser conclusivo) para o mundo objetivo é necessário tomar como certas algumas coisas. Mas, supondo que tudo o que se vê é falso, sua memória é cheia de mentiras. Nesses parâmetros, a única coisa verdadeira é que não há nada de certo no mundo. Descartes realça que não estava sendo cético, pois esses são indecisos e ele buscava a verdade através da dúvida. Pois há uma força que engana sempre. Mas se ela engana, não se pode negar que se está recebendo a ação. Mesmo se não houver diferença entre o sonho e o estado acordado, ele pensa enquanto duvida. Assim Descartes chegou à verdade Penso, Logo existo (em latim: Cogito, ergo sum). Por pensamento Descartes considera tudo o que é de fato, e que nós nos tornamos conscientes disso. São pensamentos todas as operações intelectuais e da imaginação, bem como da vontade. Assim Descartes se fecha em sua subjetividade, na sua mente e pôde supor que não existe mundo. Mas a sua alma existe, e ela é puro pensamento. E um tópico interessante de sua teoria é a dualidade. A alma é uma substância distinta do corpo. E antes de confirmar como verdadeira a existência física do mundo, Descartes demonstra a existência de deus. Afirma que quem conhece é mais perfeito do que quem duvida. Tudo aquilo que ele conhece tinha de vir de alguma coisa. Ele acha que é necessário existir algo a quem ele depende e que seja perfeito. É a lei da causalidade, Deus é causa final de tudo. Descartes desenvolve o argumento ontológico para a existência de Deus. Antes dele, Santo Anselmo já o tinha feito. O Deus cartesiano é infinito, imutável, independente, onisciente, criador e conservador. Deus é uma idéia inata, que já vem junto com o nascimento. Deus garante a objetividade do mundo. Existem também as idéias factícias, construídas por nós mesmos, e as adventícias, que vem de fora. Descartes diz que existe uma luz interior dada por Deus, que dá confiança e certeza, pois é impossível que Deus seja mentiroso e enganador. E nossa consciência de Deus, do infinito, essa percepção que o homem pode ter da divindade e da perfeição é como “a marca do artista em sua obra”. Hegel mais tarde afirmou que é impossível ao homem conhcer o infinito, pois ele só pode empregar categorias finitas. E o ser humano erra, erro que provém do juízo. E no juízo o intelecto e a vontade influem. A pressão, influência da vontade sobre o intelecto se não for bem administrada resulta no erro do juízo. Como em Santo Agostinho, é o mau uso do livre arbítrio que faz o errado surgir. Meu intelecto como tal, em si, não é errado, mas meus pensamentos e atos podem ser.

Descartes afirma que a realidade exterior pode ser conhecida através da razão. As propriedades quantitativas são evidentes para a razão, as propriedades qualitativas são evidentes para os sentidos. Descartes fala da existência das substâncias, como a já citada alma e a extensão, ou matéria. A matéria ocupa lugar no espaço e pode ser decomposta em partes menores. Existe só um tipo de matéria no universo. O universo é composto de matéria em movimento. Não existe o espaço vazio, ou o vácuo dos atomistas. Visando a análise científica racional, Descartes chega à conclusão que os animais e os corpos humanos são autômatos, como máquinas semelhantes ao relógio. Na quinta parte do Discurso do Método, ele faz uma descrição fisiológica, o corpo é uma máquina de terra, construído por Deus, e suas funções dependem das funções dos orgãos. A alma está ligada ao corpo por uma glândula cerebral, onde ocorre a interação entre espírito e matéria. Na teoria mecanicista de Descartes, o corpo é uma máquina e deve entregar o controle das ações para alma. E Descartes afirma que a soma de todos os ângulos de um triângulo sempre será igual à dois retos. Essa frase foi tomada por Spinoza, a quem Descartes influenciou, e significa uma verdade, independente dos vai-e vem das opiniões baseadas nos sentidos.

Para o 2º ano

A ditadura na Roma antiga e nos dias atuais

Antonio Carlos Olivieri*

Da Página 3 - Pedagogia & Comunicação

O conceito de ditadura se origina Roma antiga. Em latim, a palavra era "dictatura". Entretanto, o significado moderno do conceito é completamente diferente da instituição que ele designava na Antigüidade. De qualquer modo, uma comparação entre ditadura antiga e moderna pode ajudar a compreender melhor o sentido que o termo adquiriu nos dias de hoje.



reprodução
Júlio César

Para começar, a ditadura romana era uma instituição de caráter extraordinário. Só era ativada em circunstâncias excepcionais, para fazer frente a situações de emergência, como uma crise interna ou uma guerra. O ditador era nomeado por um ou pelos dois cônsules - os chefes do governo romano -, de acordo com o senado e por processos definidos constitucionalmente. Da mesma maneira, também eram definidos os limites de sua atuação.

Ainda assim, os poderes do ditador eram muito amplos e seus decretos - o que ele "ditava" (e vem daí "ditadura") - tinham o valor de lei. Apesar disso, seus poderes não eram ilimitados: o ditador não podia revogar ou mudar a Constituição, declarar guerra, criar novos impostos para os cidadãos romanos, nem exercer o papel de juiz nos casos de direito civil. Finalmente, a ditadura tinha sua duração explicitamente fixada: não podia durar mais de seis meses.

Um poder sem limites

Atualmente, a expressão ditadura serve para designar os regimes de governo não-democráticos ou antidemocráticos, isto é, aqueles onde não há participação popular, ou onde isso ocorre de maneira muito restrita. Nesse sentido, de igual à ditadura romana, ela só apresenta uma coisa: a concentração de poder nas mãos do ditador. Além disso, a ditadura moderna não é autorizada por regras constitucionais: ela se impõe de fato, pela força, subvertendo a ordem política que existia anteriormente.

Para piorar, a extensão do poder do ditador não está determinado pela Constituição nem sofre qualquer tipo de limites. Sua duração não está prevista de modo algum e pode se estender por décadas. No Brasil, por exemplo, a última ditadura foi de 1964 a 1985. Na Espanha, o general Francisco Franco tomou o governo em 1936 e só o deixou quando morreu, em 1975, numa ditadura que durou cerca de 40 anos. Em Cuba, hoje, o ditador Fidel Castro já completou 46 anos no poder.

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O ditador Fidel Castro


A ditadura moderna implica, antes de mais nada, a concentração de poder. Em geral, num órgão já existente do Estado (via de regra, o poder Executivo). Estende também o poder além dos limites normais, por exemplo, suspendendo os direitos dos cidadãos. Deixa ainda o poder livre dos freios e dos controles estabelecidos pelas leis. Foi o que aconteceu no Brasil, por exemplo, a partir de 1968, quando o Ato Institucional no. 5, deu imensos poderes ao Executivo, como o de fechar o Legislativo, caso lhe fosse conveniente.

Por tudo isso, a ditadura moderna tem uma conotação inquestionavelmente negativa. Designa, como já se disse, os regimes não-democráticos ou antidemocráticos. É um contraponto à democracia, na qual o poder se encontra dividido em várias instâncias de poder, equilibrando-se Executivo, Legislativo e Judiciário. Num regime democrático, a transmissão da autoridade política é feita de baixo para cima, através da manifestação popular, via eleições. Na ditadura, além da concentração do poder numa instância exclusiva, a transmissão da autoridade política ocorre de cima para baixo, a partir da decisão do ditador ou dos ditadores.

Conservadores e revolucionários

Nos dias de hoje, quanto às finalidades com que são instaladas, podem-se distinguir dois tipos de ditadura: 1) as conservadoras, cuja finalidade é defender o satus quo dos perigos de uma mudança. Esse foi o caso das várias ditaduras militares que se estabeleceram na América Latina nos anos 1960 e 70: Argentina, Brasil, Chile, Uruguai... 2) as revolucionárias, que visam abater ou minar, de forma radical, a velha ordem político-social e introduzir uma ordem nova, como foi o governo instaurado pela Convenção Nacional francesa, em 1793, que pôs fim à monarquia, ou ainda o próprio governo cubano, depois de 1959, que instaurou o socialismo no país.

Entretanto, existem outros termos usados para denominar regimes não-democráticos. Dentre eles, os mais importantes são despotismo, absolutismo, tirania, autocracia e autoritarismo. No vocabulário comum e mesmo no vocabulário político do dia-a-dia, esses termos são freqüentemente usados como sinônimos. Na filosofia política, porém, podem-se estabelecer distinções entre eles.

Despotismo

Despotismo, num primeiro sentido, refere-se ao despotismo oriental, da Antigüidade. Tratava-se do governo monocrático (monos = um só), típico da Ásia e da África e que era oposto à democracia grega. O filósofo Aristóteles o chamava de despótico, comparando-o ao poder que o patrão (em grego, despotes) exerce sobre o escravo.

Na Idade Moderna, o pensador francês Montesquieu (1689-1755) retomou o conceito, definindo-o como o governo no qual "um, sozinho, sem leis nem freios, arrasta tudo e todos no sabor de suas vontades e de seus caprichos". Na Europa dos séculos 17 e 18, despotismo serviu para designar os regimes de monarquia absolutista, que poderia ser considerado bom ou mal, de acordo com a maneira com que o monarca exerce o poder.

É nesse sentido que se fala em despotismo esclarecido, no século 18, quando o monarca, embora detenha o poder absoluto, é "instruído por sábios conselheiros sobre a existência das verdadeiras leis, gozando da plenitude de seus poderes para aplicá-las e promover, agindo assim, o bem estar e a felicidade de seus súditos".

Tanto o despotismo quanto o absolutismo são conceitos que se aplicam a monarquias hereditárias, consideradas legítimas pelos súditos, que integram uma sociedade tradicional. Nela, a participação política da grande maioria da população é nula. A monarquia é vista como a única forma de governo possível, por ter as suas raízes no passado mitológico ou na origem divina.

Tirania e autocracia

Tirania era o governo de exceção na Grécia antiga. Assemelhava-se à ditadura moderna, pois nasciam das crises e da desagregação da democracia ou de algum regime político tradicional. O tirano não era um monarca legítimo, mas o chefe de alguma fração política, que impunha pela força o próprio poder a todos os outros partidos. Da mesma forma que os ditadores modernos, os tiranos exerciam um poder arbitrário e ilimitado, recorrendo às armas.

Ao contrário dos outros termos examinados, autocracia não tem uma conotação histórica precisa. É um termo abstrato que se usa com dois significados principais: um particular e um geral. No particular, ele denota um grau máximo de absolutismo. Uma autocracia é um governo absoluto que detém um poder ilimitado sobre seus súditos. Sob este ponto de vista, um monarca absoluto é um autocrata, mas ele pode não sê-lo, quando divide o poder alguns colaboradores que tenham condições de limitar sua vontade.

Em seu significado geral, o termo autocracia foi usado por alguns teóricos da política e do direito para designar todo tipo de governo antidemocrático ou não-democrático. Mas, nessa acepção, a palavra não obteve sucesso, nem na linguagem popular nem na linguagem técnica da filosofia ou da ciência política.

Autoritarismo

Autoritarismo também é um termo usado para designar todos os regimes que se contrapõem ao democrático. Por outro lado, modernamente, o significado é mais restrito e designa governos fortes que, porém, não chegam a constituir uma ditadura, pois possuem um grau relativamente moderado de mobilização popular e de participação política da sociedade. É o caso do governo de Hugo Chávez na Venezuela contemporânea, onde a oposição ao governo é severamente controlada.



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A suástica nazista

Mas o autoritarismo deve ser diferenciado do totalitarismo. Este é o grau máximo de absolutismo nos regimes ditatoriais modernos, em que o Estado exerce total controle da vida dos cidadãos. Eles ocorreram em sistemas como o da Alemanha nazista, sob Hitler, e o da Rússia comunista, sob Stálin, em que a propaganda chegava a convencer o cidadão de que ele existia não para seu próprio benefício, mas para benefício do Estado. O resultado dessas duas ditaduras pode ser medido pelas cerca de 30 milhões de mortes que provocaram ao longo de aproximadamente duas décadas.

*Antonio Carlos Olivieri é escritor, jornalista e diretor da Página 3 Pedagogia & Comunicação.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Democracia Direta e Indireta (Para o 2º ano)

o nos depararmos com o termo “democracia”, muitos logo apontam esse tipo de governo como sendo aquele que se guia por meio da vontade do povo. Nesse sentido, a população teria o direito de interferir nas escolhas e decisões que afetariam diretamente as suas vidas. Entretanto, o espaço político gerado pela democracia pode ser organizado das mais diferentes formas e deve atender à especificidade de cada povo. É daí que reconhecemos a existência dos modelos de democracia direta e indireta.

A democracia direta pode já ser vista como um tipo de sistema onde os cidadãos discutem e votam diretamente as principais questões de seu interesse. Na Grécia Antiga, as assembleias populares reuniam a população das cidades-Estado democráticas na Ágora (praça), local onde as leis e principais decisões eram discutidas e resolvidas. Vale lembrar que nos moldes gregos, o exercício de opinião política estava restrito a uma parcela específica da população.

Na medida em que as sociedades se alargavam numericamente e a organização social se tornava cada vez mais complexa, vemos que o sistema de democracia direta se mostrava inviável. Afinal de contas, como seria possível contabilizar o voto de toda uma população numerosa, na medida em que as questões a serem decididas não poderiam estar sujeitas ao registro do voto de cada um dos indivíduos? É nesse instante que temos a organização da chamada democracia indireta.

A democracia indireta estabelece que a população utilize do voto para a escolha dos representantes políticos mais adequados aos seus interesses. Desse modo, os cidadãos teriam os seus direitos assegurados por vereadores e deputados que se comprometeriam a atender os anseios de seus eleitores. No entanto, observando o desenvolvimento da democracia indireta, vemos que esse compromisso entre os políticos e os cidadãos está sujeito a vários questionamentos.

Visando escapar do afastamento à norma democrática, observamos hoje a organização de algumas iniciativas interessadas em reforçar o poder de intervenção do povo através do uso do voto. Um desses exemplos pode ser visto na organização do chamado “orçamento participativo”, sistema em que autoridades de um município anunciam a existência de uma determinada verba e conclamam a população de um bairro ou região para discutir e votar sobre qual a melhor destinação dos recursos.

Para o 2º ano - Revolução

Ao estudarmos o conceito de revolução, nos deparamos com uma interessante “crise” onde não conseguimos bem ao certo encontrar um consenso pelo qual possamos dar uma única significação a esse termo. Isso tudo porque as experiências históricas definidas como “revolucionárias”, nem sempre são o reflexo exato de uma concepção previamente estabelecida.

A partir daí nos preocupamos sobre qual tipo de fato histórico pode ser considerado “revolucionário”. O termo revolução, à primeira vista, refere-se a toda e qualquer transformação radical que atinja drasticamente os mais variados aspectos da vida de uma sociedade. Nesse sentido, as mudanças proporcionadas por certo acontecimento deveriam ser julgados como revolucionárias por todo e qualquer estudioso que pesquisasse um mesmo tema.

No entanto, percebemos que as perspectivas históricas nem sempre concordam entre si. Muitos historiadores preocupam-se em refletir, por exemplo, sobre os “limites” de uma determinada revolução. Dessa forma, cria-se uma verdadeira contradição onde não sabemos com absoluta certeza se um fato histórico foi ou não foi revolucionário. Poderíamos assim dizer que, na verdade, não existem revoluções?

De acordo com correntes de compreensão marxista, uma revolução só pode ser experimentada quando todos os pontos fundamentais que sustentam o statu quo de uma sociedade invertem-se completamente. Com isso, admiti-se que se as relações de trabalho, a hierarquia social, as práticas econômicas ou hábitos cotidianos permanecem após uma mudança histórica, exclui-se a possibilidade de uma revolução.

Um dos casos mais notórios desse tipo de contradição pode ser observado nas revoluções acontecidas entres os séculos XVII e XVIII. A queda do Antigo Regime favoreceu a ascensão política da burguesia, porém manteve – sob outros parâmetros – a exploração das classes trabalhadoras. Até por isso, muitos historiadores chamam tais transformações de “revoluções burguesas”.

Com essa indefinição, certas correntes históricas só reconhecem uma revolução em concordância com termos bastante definidos. Outras já relativizam o termo, admitindo que seja impossível a deflagração de uma revolução total. A partir dessas diferentes concepções, cria-se um acalorado debate onde se discute a possibilidade de condições históricas que transforme radicalmente uma sociedade ou se toda e qualquer transformação não consegue atingir um patamar revolucionário.

Seria difícil decretar uma resposta final a esse debate sobre as revoluções. No entanto, em nada podemos desmerecer certo tipo de compreensão histórica em detrimento da outra. Enquanto isso, podemos discutir na pluralidade de perspectivas novas compreensões das mais brandas ou mais agitadas experiências históricas. Sejam elas revolucionárias ou não.

Por Rainer Sousa

Graduado em História
Equipe Brasil Escola

Informações sobre Vestibulares Seriados


Pessoal, entrem no site http://www.vestibularseriado.com.br/templates/seriado/images/marca.png

Para informarem-se dos vestibulares seriados! Atenção 1º ano do EM!

Olimpíada Brasileira de História do Brasil


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quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Michel de Montaigne


“Entre os estudos, comecemos por aqueles que nos façam livres”

“Uma cabeça bem-feita vale mais do que uma cabeça cheia”


Michel de Montaigne nasceu em 1533 perto de Bordeaux, no sudoeste da França. Foi educado em casa e até os 6 anos só falava e entendia latim. Formou-se em Direito na Universidade de Toulouse e imediatamente ingressou na magistratura. Aos 24 anos, conheceu o escritor Étienne de la Boétie (1530-1563), com quem desenvolveu fortes laços de amizade. A morte de La Boétie causou um abalo emocional que o levou a começar a escrever. Em 1570, ele vendeu sua vaga no Parlamento (que na verdade tinha funções de tribunal) de Bordeaux, como era costume na época, e retirou-se da vida pública. Passou então a dedicar-se a escrever os Ensaios, que ele reelaborou e ampliou continuamente. Durante esse período, Montaigne alternou o recolhimento a seu castelo com idas a Paris para dar conselhos aos funcionários do reino sobre os conflitos religiosos. Em 1580, começou uma viagem de 15 meses por vários países da Europa. No ano seguinte, soube que havia sido escolhido prefeito de Bordeaux. Assumiu o cargo e manteve-o durante quatro anos. Morreu em 1592, em seu castelo, de uma inflamação nas amígdalas.

O período histórico da Renascença estava em sua última fase quando o escritor francês Michel de Montaigne chegou à vida adulta. O otimismo e a confiança nas possibilidades humanas já não eram os mesmos e a Europa se desestabilizava em conseqüência dos conflitos entre católicos e protestantes. Esse ambiente refletiu-se na produção do filósofo, marcada pela dúvida e pelo ceticismo. Seus Ensaios são leitura de cabeceira de um grande número de intelectuais contemporâneos, entre eles Claude Lévi-Strauss, Edgar Morin e Harold Bloom.

A obra, originalmente em três volumes, é, a rigor, a única de Montaigne – mais alguns escritos pessoais foram publicados depois de sua morte – e inaugurou um gênero literário. A palavra “ensaio” passou desde então a designar textos em torno de um assunto que vai sendo explorado por meio de tentativas (esse é o significado da palavra essais em francês), mas sem rigores de método. Muitas vezes, não chegam a nenhuma conclusão definitiva, mas convidam o leitor a considerar alguns pontos de vista. No caso de Montaigne, o gênero serve à perfeição ao propósito de contestar certezas absolutas.

Dois dos Ensaios tratam especificamente de educação: Do Pedantismo e Da Educação das Crianças. Neles está claro que o autor pertencia a uma classe emergente, a burguesia, e que se rebelava contra certos padrões de erudição e exibicionismo intelectual ligados à aristocracia. Montaigne assumia também o papel de crítico tanto dos excessos de abstração da filosofia escolástica da Idade
Média – que ainda sobrevivia nas universidades – quanto da cultura livresca do humanismo renascentista.

Essas circunstâncias históricas não necessariamente limitam os argumentos do autor, que foi o primeiro a falar numa “cabeça bem-feita” (expressão que Morin escolheu para título de um de seus livros) como objetivo do ensino, em detrimento de uma “cabeça cheia”. “Trabalhamos apenas para encher a memória, deixando o entendimento e a consciência vazias”, escreveu. Saber articular conhecimentos, tirar conclusões, acostumar-se à aquisição e ao uso da informação – todas essas questões tão problematizadas pelos teóricos da educação de hoje em dia estão no cerne das preocupações de Montaigne. “Para ele, a verdadeira formação residia em saber procurar, duvidar, investigar e exercitar o que é inteiramente próprio de cada pessoa”, diz Maria Cristina Theobaldo, professora da Universidade Federal de Mato Grosso.

“Que sei eu?”

O projeto intelectual do filósofo teve a finalidade de testar maneiras de pensar que escapassem do caminho da erudição e da aplicação de idéias alheias. Quando se recolheu para escrever os Ensaios, sua decisão era voltar-se para si mesmo e reconstruir a própria história por intermédio de temas escolhidos ao acaso. “Em Montaigne, o processo formativo coincide com o conhecimento de si, lançar-se nas experiências e tomar posição perante os acontecimentos da vida”, informa Maria Cristina.

Ao mergulhar em assuntos tão díspares quanto a perseverança e os odores, o autor realizou investigações que misturam experiências de vida a conhecimentos adquiridos por todos os meios, dos formais (tratados e clássicos literários) aos informais (conversas, leituras ligeiras, lendas populares). A primeira pergunta é “que sei eu?”, para começar com uma grande dúvida e não com uma grande certeza – nem mesmo a certeza de não saber nada. Como cronista, Montaigne invariavelmente se declara ignorante e inculto, embora seus ensaios estejam recheados de citações gregas e latinas – uma das muitas contradições propositais que os tornam tão ricos.

Leitor devoto da tradição filosófica cética, Montaigne foi partidário da idéia de que a razão por si mesma não garante a existência de nada nem sustenta argumento algum. O homem, para ele, não era o centro do universo, como queriam os renascentistas, mas um elemento ínfimo e ignorante de um todo misterioso e muito mais próximo dos animais e das plantas do que de Deus. A escrita amena e ponderada dos Ensaios muitas vezes impede que, numa primeira leitura, se perceba seu potencial demolidor – tanto que a obra só foi proibida pela Igreja mais de 80 anos após a morte do autor. Não que ele fosse ateu. Considerava-se cristão, mas não aceitava dogmas nem, sobretudo, a lógica que a religião costuma imputar aos desígnios divinos. Daí que só resta ao ser humano voltar-se para si, porque as únicas certezas que tem de antemão se referem aos limites do corpo e à inevitabilidade da morte. Sobre o mundo exterior, a melhor atitude é comportar-se sempre como um estrangeiro em seu primeiro dia numa terra estranha – pelo menos se evitam as idéias preconcebidas e legitimadas apenas pela tradição.

Coerentemente com tais idéias, Montaigne chegou a uma concepção de ética que também difere muito das idéias estabelecidas em sua época sob a influência do platonismo e do cristianismo. Para o filósofo, os valores morais não podem ser objetivos e universais, mas dependem do sujeito e da situação em que ele se encontra.

Longe dos pais e perto da vida

Para Montaigne, as crianças não devem ser educadas perto dos pais, porque sua afeição torna os filhos “demasiadamente relaxados” e isso não os prepara “para a aventura da vida”. O objetivo principal da educação seria permitir à criança a formulação de julgamentos próprios sem ter que aceitar acriticamente as leituras que a escola recomenda. “No trabalho de transformar o que está nos livros em letra viva, o preceptor tem papel fundamental”, diz Maria Cristina Theobaldo. A receita ideal para treinar a capacidade de análise é acostumar-se a considerar opiniões diferentes e acima de tudo conhecer culturas e experiências diversas daquelas a que o aluno se familiarizou. É o que Montaigne descreve como “atritar e polir nosso cérebro contra o de outros”. O filósofo se rebelava contra a cobrança de memorização mecânica dos conteúdos ensinados aos alunos.
“É prova de crueza e de indigestão regurgitar o alimento como foi engolido”, escreveu. Segundo ele, as crianças devem aprender o quanto antes a filosofia, porque assim entram em contato com a necessidade de conhecer a prudência e a moderação. E também conhecer a si mesmos por meio da introspecção. O pensador relegava a segundo plano o ensino das Ciências, recomendando-o apenas aos que tivessem habilidade natural para ocupar-se dela profissionalmente. Já a História e a Literatura teriam função formadora mais ampla, inclusive do caráter.